Clima quente e seco desafia plantio do milho safrinha no Paraná; especialistas apontam riscos e soluções

12 - MAR - 2025
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Nos últimos anos, o clima tem sido um dos maiores desafios para a agricultura brasileira, e o plantio do milho safrinha no Paraná não foge a essa realidade. De acordo com o professor Erich Dos Reis Duarte, da Universidade Anhanguera – Bandeirantes (PR), as temperaturas elevadas e a falta de chuvas impactam diretamente o planejamento e a produtividade da safra.

“Estamos vivendo uma das fases mais quentes da história da agricultura no Brasil. Um aumento de apenas 1°C já é suficiente para afetar a floração de muitas culturas, incluindo o milho”, alerta o especialista. O clima quente e seco tem atrasado o plantio em várias regiões do estado, cujo limite ideal é até 20 de março. Para piorar, as condições atuais estão longe do ideal: o milho safrinha precisa de chuvas entre 40 e 80 mm, com intervalos de 7 a 10 dias, para um bom estabelecimento inicial da lavoura.

O engenheiro agrônomo da Belagrícola, Alexandre Yamamoto, acrescenta que as condições climáticas no Paraná são caracterizadas por temperaturas acima da média e precipitações abaixo do esperado. “Isso é resultado de um padrão climático mais amplo, que inclui fenômenos como El Niño e La Niña. Nos últimos anos, temos observado um aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas prolongadas. Essas condições podem ter um impacto significativo na agricultura, especialmente no plantio do milho safrinha”, explica.

Yamamoto alerta que a falta de chuvas e o alto índice de evapotranspiração podem reduzir a disponibilidade de água no solo, atrasando o plantio e comprometendo a germinação das sementes. Ele reforça que é fundamental que os produtores monitorem as condições climáticas e ajustem seus planos de plantio e manejo de acordo.

 

Riscos Agronômicos e Perdas Produtivas

O professor Duarte também destaca os riscos do estresse hídrico e das altas temperaturas do solo, que representam sérias ameaças ao milho safrinha. A germinação e o estabelecimento das plantas são prejudicados, levando à perda de stand (número de plantas por área) e ao aumento de pragas e doenças. “Pragas como cigarrinhas, tripes, mosca branca e percevejos se proliferam mais rapidamente em condições de calor extremo”, explica Duarte. Além disso, doenças do solo, que se beneficiam da palhada seca, tornam-se mais frequentes.

O atraso no plantio é outro fator crítico. Segundo o professor, a cada dia de atraso a partir de 1º de janeiro, há uma perda estimada de 0,6 sacas por hectare. “Se o produtor atrasar 10 dias, pode perder até 6 sacas por hectare”, destaca Duarte.

Atualmente, as temperaturas estão consistentemente acima de 25°C, e a umidade relativa do ar está abaixo de 50%. Além disso, a escassez de chuvas tem deixado o solo seco, com níveis de umidade abaixo de 10% no horizonte de 0 a 20 cm.

Yamamoto complementa enfatizando que as condições ideais para o plantio do milho safrinha estão entre 18°C e 25°C, com umidade do solo variando entre 20% e 30% no horizonte de 0 a 20 cm.

 

Soluções e Inovações para Enfrentar o Desafio Climático

Diante desse cenário, a pesquisa e a inovação têm sido aliadas fundamentais. Cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico e ao calor já estão disponíveis no mercado. Além disso, práticas de manejo integrado, como o uso de bioinsumos (fungos, bactérias e extratos de plantas), têm mostrado resultados promissores, como destaca o professor Duarte.

O produtor, no entanto, precisa estar atento ao manejo da fertilidade do solo. “É essencial realizar um bom diagnóstico do solo, incluindo análises físicas, químicas e biológicas, para embasar decisões importantes, como rotação de culturas, uso de plantas de cobertura e equilíbrio da adubação. Essas medidas são fundamentais para minimizar os riscos da safra, especialmente no inverno, quando o volume de chuvas é menor e os impactos dos fenômenos climáticos são imprevisíveis. Para reduzir a dependência do clima, é crucial investir na saúde do solo”, salienta Yamamoto.

 

Plantas Daninhas, Pragas e Doenças: Riscos Constantes

Outra recomendação é manter o controle rigoroso de plantas daninhas, pragas e doenças, além de monitorar possíveis problemas durante o desenvolvimento do milho. “O produtor pode relutar em fazer aplicações devido à seca, mas o controle de pragas é essencial para garantir o desenvolvimento da cultura”, afirma Letícia Ferreira, coordenadora de Tecnologia e Nutrição da Belagrícola.

Plantas Daninhas

As plantas daninhas competem diretamente com o milho por água, luz e nutrientes, além de servirem como abrigo para pragas que causam danos econômicos. O controle deve ser realizado antes do fechamento das linhas da cultura, enquanto as plantas daninhas e tigueras de soja ainda estão pequenas, sendo um manejo essencial para o bom estabelecimento da lavoura.

Percevejo e Cigarrinha

O percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus e D. melacanthus) e a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) estão entre as principais pragas da cultura. Em caso de ataque, o produtor deve buscar assistência técnica.

O percevejo-barriga-verde injeta toxinas na planta por meio da saliva, prejudicando seu crescimento. Em infestações severas, pode levar à morte da planta, causando o chamado “coração morto”. Segundo Letícia Ferreira, o período crítico de danos ocorre da emergência até o estágio fenológico V3 (terceira folha completamente desenvolvida). “O controle deve ser realizado quando houver 0,8 percevejos/m², pois nesse estágio a planta é mais vulnerável, devido ao menor calibre do colmo, permitindo que o estilete da praga atinja diretamente o ponto de crescimento”, explica Letícia. O potencial de danos pode se estender até o estágio V6 (seis folhas com colar visível).

Já a cigarrinha transmite molicutes (microorganismos) que causam o enfezamento pálido (espiroplasma) e o enfezamento vermelho (fitoplasma). Os sintomas incluem lesões necróticas, enrolamento das folhas, enfraquecimento da planta e deformação da espiga. Em casos severos, pode levar à morte da planta. “Como não é possível identificar a campo quais cigarrinhas estão contaminadas, o controle deve ser realizado conforme a presença do inseto na lavoura. O potencial de dano crítico ocorre desde a emergência até o estádio V8, podendo se estender até o pré-pendoamento (VT)”, alerta Letícia.

A coordenadora destaca que o controle químico tem ação rápida, mas residual curto. Já os bioinseticidas, como Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae e Isaria fumosorosea, são altamente eficazes no parasitismo das pragas e oferecem maior persistência na lavoura. “Além disso, podemos utilizar produtos que induzem resistência nas plantas, como fosfitos (de cobre, manganês, potássio), compostos salicílicos e aminoácidos que atuam no sistema de defesa das plantas”, conclui Letícia.

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