GESTÃO & GOVERNANÇA _ Mulheres no comando

11 - ABR - 2023
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Presença feminina na administração de propriedades agrícolas e na indústria do agronegócio cresce de forma consistente.

A visão convencional de que a administração de propriedades e empresas agrícolas é uma função exercida apenas por homens não encontra mais sustentação – ao menos no agronegócio brasileiro. Isso porque vem aumentando cada vez mais a presença das mulheres no campo. Dispostas a combater a desigualdade de gênero no setor rural, elas provam sua competência como administradoras, especialistas e certificadoras, entre muitas outras atividades. 

O aumento da presença no setor foi identificado por um estudo feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir do Censo Agropecuário de 2017, e segundo o qual existem 947 mil propriedades rurais comandadas por mulheres no país. O número corresponde a 18,6% do total. No entanto, outros levantamentos apontam para uma participação de cerca de 30%.

Mais recentemente, um estudo realizado pela Agroligadas, formada por mulheres do agronegócio, apontou que a presença feminina no controle de propriedades e negócios no campo vem ganhando força no país. Ao ouvir 408 mulheres, o levantamento – realizado em conjunto com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), com a Corteva Agriscience e com a cooperativa de crédito Sicredi – mapeou as principais características da participação feminina no campo. 

Esta crescente participação feminina representa não apenas a busca pelo equilíbrio, diante da tradicional presença masculina, mas também uma modernização das atividades – incorporando ao modelo de administração tradicional as mudanças que vêm sendo trazidas pelas práticas de gestão moderna, pelas novas tecnologias e pela pauta ambiental, social e de governança (ESG). Essa mudança de paradigmas é essencial para aumentar a produtividade das propriedades agrícolas do País, possibilitando que continuem a contribuir de forma positiva para a geração de riquezas no Brasil. 

 

Direção bem-sucedida

Um exemplo é a trajetória de Adriana Cristina Guizelini, proprietária e administradora da Agropecuária Itapuã, em Marilândia do Sul (PR). Ela herdou a fazenda de 150 alqueires há 12 anos e logo deu início a uma completa atualização das atividades realizadas na propriedade. A administradora investiu na modernização dos equipamentos, buscou novas e melhores sementes, aprimorou todo o processo de plantio e investiu na Construção do Persil de Solo. Tudo isso foi acompanhado dos conhecimentos de Adriana, formada em Administração de Empresas, o que trouxe um novo modelo de gestão à propriedade. 

 

“Era bem na época de transição na qual a soja passou a ser valorizada como um produto para exportação”, afirma. Ela acrescenta que, nos dois primeiros anos, compartilhou a administração da propriedade com seu tio; no entanto, divergências quanto ao modo de administrar a fazenda acabaram por desfazer a sociedade, deixando a Agropecuária Itapuã apenas nas mãos de Adriana. “Minha ideia sempre foi produzir mais na terra de que dispúnhamos. Passei a estudar técnicas de melhoria de solo e a investir nisso em técnicas como a CPS. Quando eu assumi, a fazenda produzia, em média, 80 sacas de soja; neste ano, mesmo com a seca, foi possível atingir 175 sacas.”

A visão mais profissional do negócio, adotada pela administradora, fez toda a diferença. Ela pesquisou produtos premium para usar na fazenda, utilizando sementes de melhor qualidade. “Comecei a tratar a fazenda como uma empresa. Compramos colheitadeira, pulverizadores, plantadeiras a vácuo, investimos em adubação e na qualidade de cultivares, iniciamos um processo de rotação de culturas. Na ponta do lápis, isso fez muita diferença”, analisa. “Os custos de produção caíram consideravelmente, por causa da eficiência dos novos equipamentos, por exemplo.”

Adriana conta que, no início, o fato de ser mulher gerou alguma resistência da equipe de trabalhadores da fazenda. “Quando eu dividia a administração com meu tio, nos dois primeiros anos, eles escutavam mais ele. Depois, quando assumi, eles logo viram que as mudanças traziam benefícios à fazenda, permitindo que eles realizassem as tarefas em menos tempo e com melhores resultados. E eu sempre valorizei a experiência da equipe, que tinha mais experiência em lidar com a terra”, afirma.

O processo de melhoria contínua na gestão da fazenda continua. “Estamos pesquisando formas de fazer a irrigação aqui e instalar painéis de energia solar. Avaliamos tudo cuidadosamente, para ver se vai realmente valer a pena”, explica Adriana. “Além disso, como os nossos produtos são exportados, em breve, será necessário dispor de formas de rastreabilidade e certificação de sustentabilidade. Isso mostra que o nosso aprimoramento tende a ser constante.”

 

A mulher no agronegócio

 

De acordo como a pesquisa da Agroligadas, que ouviu 408 profissionais femininas do agronegócio:

  • 69% são proprietárias ou arrendatárias
  • 41% têm cursos de pós-graduação
  • 93% se declaram orgulhosas pelas suas atividades
  • 64% apontam perceber a desigualdade de gênero
  • 95% se preocupam em aprimorar sua capacitação profissional
  • A média de idade das pesquisadas é 40 anos
  • O tempo médio de profissão é de 15 anos

 

Fonte: estudo Elas fazendo história, da Agroligadas.

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